sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Imprensa - Dalai Lama em Lisboa

Dia 3:
«Dalai Lama, o velho "marxista" do Tibete

Tenzin Gyatso, mais conhecido por ser o 14.º Dalai Lama, assumiu-se ontem, com alguma ironia à mistura, como um "velho marxista". A tirada do Dalai Lama surgiu no fim de duas audiências na Assembleia da República, onde foi recebido por Jaime Gama e também pela Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros. Como os jornalistas queriam saber se tinha trocado algumas palavras com o deputado do PCP, Jorge Machado, que integra aquela comissão e que resolveu estar presente, o Dalai Lama descreveu assim a troca de palavras no encontro: "Bom, eu disse-lhe que ele é um comunista muito jovem. Eu sou um velho marxista, ele é um novo marxista."Já o próprio Jorge Machado diria aos jornalistas que se tratou de "um encontro normal com uma entidade religiosa. O Dalai Lama foi recebido enquanto líder religioso". Aliás, a atitude de ignorar que o monge budista tibetano é visto em muitos meios como um líder político foi a palavra de ordem em todas as bancadas.De resto, o Dalai Lama garantiu estar "muito feliz" por ter sido recebido na AR, tendo levado a delicada questão do Tibete aos encontros que manteve, sobretudo com a comissão liderada por José Luís Arnaut. Nessa reunião, adiantou à saída, falou-se dos problemas do Tibete: "Não estamos à procura da independência, devemos ter uma autonomia significativa", disse o líder espiritual do Tibete, no exílio desde 1959, altura em que a China comunista invadiu aquele pequeno Estado teocrático.Salientando a delicadeza da questão, o Dalai Lama disse a páginas tantas que "a causa do Tibete é muito complicada porque a China é o país mais populoso do mundo". Mesmo assim garantiu que o Tibete pode tirar "benefícios" da actual situação para o seu futuro. Nas audiências que manteve com o presidente da AR e com os deputados, o Dalai Lama transmitiu uma mensagem de harmonia, até do ponto de vista religioso. Com Jaime Gama manteve uma conversa de mais de uma hora, onde entregou uma kata, um lenço branco de seda suave que tem um simbolismo próprio e auspicioso. Significa que a conversa não começa com pensamentos "corruptos" ou maus motivos. O lama chegou aos Passos Perdidos à hora prevista, cheio de segurança, com alguns monges que trajavam de igual ao seu chefe espiritual (vestes bordeaux e laranja) e acompanhado pelo chefe de gabinete de Gama, Eduardo Âmbar. Discreto e simpático, presenteou o líder da AR com dois livros seus, um dos quais sobre a visita de 2001, a tal em que não foi recebido por nenhum órgão de soberania. À mesma hora da visita de ontem, um grupo de turistas orientais visitavam a AR. Mas eram sul-coreanos e não chineses...»

Francisco Almeida Leite, Diário de Notícias, 14 de Setembro de 2007


Dia 2:
«Dalai Lama: Mais de mil pessoas no 1º dia de ensinamentos

Mais de mil pessoas encheram hoje o auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa para ouvir o líder espiritual tibetano Dalai Lama no primeiro de três dias de ensinamentos budistas dedicados ao Desenvolvimento da Paz Interior. Dalai Lama, prémio Nobel da Paz e líder espiritual tibetano, está em Lisboa desde quarta-feira para uma visita que inclui três dias de ensinamentos, uma conferência pública e encontros com deputados portugueses e com o presidente da Assembleia da República. A agenda de Dalai Lama, prémio Nobel da Paz em 1989, inclui ainda um encontro sexta-feira com o Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio. Dalai Lama desloca-se a Portugal a convite de várias instituições, como a Casa da Cultura do Tibete, Fundação Kangyur Rinpoche, União Budista Portuguesa e Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Segundo a organização, os fundos obtidos servirão para suportar os dois eventos, no entanto, caso de o número de participantes exceder as expectativas, os ganhos adicionais obtidos após saldar todos os custos serão distribuídos a obras humanitárias, por indicação de Sua Santidade.
Hoje, na faculdade de Medicina Dentária, Dalai Lama tinha à sua espera uma plateia com cerca de 1.400 pessoas, entre budistas e não budistas, que o ouviram falar da importância dos ensinamentos das religiões, indicando que todas têm o mesmo objectivo de promover o perdão e a tolerância.
Segundo o líder espiritual tibetano, poderão existir diferentes métodos, mas todas se dedicam a ajudar os outros e a fortalecer os valores humanos. As diferentes religiões, explicou, são uma espécie de diferentes medicamentos, mas com o mesmo objectivo, curar doenças.
Se alguém tenciona mudar de fé, aconselhou, deve faze-lo depois de muito estudo e ponderação.
Dalai Lama defende que é mais seguro manter a tradição, não mudando de fé, porque esta mudança pode causar algumas confusões a nível individual, podendo mesmo não ser saudável.
No entanto, se não se tiver interesse pela religião de origem optando por uma outra, o Nobel da Paz lembra que o respeito pela tradição deve ser sempre mantido.
«Não devemos nunca perder o respeito pela nossa tradição, mesmo quando a abandonamos», disse.
Os ensinamentos decorrem até sábado em Lisboa, estando ainda prevista para domingo uma Conferência Pública com o tema «O Poder do Bom Coração», no Pavilhão Atlântico
Para sexta-feira está previsto um encontro com o Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, assim como uma recepção oferecida pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa. No decorrer da visita a Portugal, o Dalai Lama também manterá encontros com entidades estrangeiras como Philippe Douste-Blazy, Conselheiro do Presidente francês Sarkozy, e com Louis Charles Viosa, Embaixador da França para o fenómeno da SIDA.
O 14.º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, galardoado em 1989 com o Nobel da Paz, visitou pela primeira vez Portugal em Novembro de 2001, tendo estado em Lisboa, no Porto e no Santuário de Fátima.

Nascido em 1935 no nordeste do Tibete, o Dalai Lama vive no exílio em Dharamsala, no norte da Índia, desde que fugiu do país em 1959, depois da invasão.»

Diário Digital/Lusa, 13 de Setembro de 2007

Dia 1:
Dalai Lama: «Esta não é uma visita política»

Dalai Lama desvalorizou polémica sobre recusa do Governo português em recebê-lo. Líder espiritual do Tibete disse que não pretende criar «embaraços». Na sua mensagem, apelou à paz, pediu uma «autonomia» tibetana autêntica» e sugeriu o diálogo com Bin Laden.

O 14º Dalai Lama já está em Lisboa para vários dias de visita cujo objectivo é, segundo explicou, a promoção de «valores humanos e da harmonia religiosa». Dias antes da sua vinda, instalou-se a polémica, por não ser recebido pelo Governo português. Na primeira conferência de imprensa dada em Lisboa, o líder espiritual tibetano e Prémio Nobel da Paz desfez qualquer controvérsia: «Esta não uma visita política». Tenzin Gyatso falou ainda no desejo de uma «autonomia genuína» do Tibete, do drama de Darfur e sugeriu o diálogo com Bin Laden.
Para aquele que é para muitos um símbolo de paz e concórdia, o facto de não ter honras de Estado é vista «sem problemas». «Onde vou, não quero criar embaraços», explicou. «Quero promover os valores humanos e a harmonia religiosa. E os governos em relação a isto podem fazer muito pouco», frisou.
Não deixando qualquer dúvida sobre a sua posição, o Dalai Lama explicou o assunto aos jornalistas que esperavam por ele num hotel da capital e a um grupo de convidados entre os quais se encontravam o socialista Vera Jardim, o frade dominicano Frei Bento Domingues, o líder da comunidade islâmica portuguesa, Abdool Karim Vakil, o ex-presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, e o realizador Manoel de Oliveira. «A minha visita não tem nada a ver com o Governo. Esta não é uma visita política», esclareceu.

O desejo de uma «autonomia genuína»
Com um humor contagiante, Tenzin Gyatso acolheu de forma descontraída, durante cerca de 40 minutos, as questões dos jornalistas. Segundo explicou, as suas visitas por todo o globo - que o tornaram um ícone político do Tibete -, têm uma finalidade espiritual. «Depois, depois sei lá...», atirou para o registo dos repórteres, antes de uma gargalhada.
A insistência em falar no problema político do Tibete - do qual se encontra exilado desde 1959 depois da invasão chinesa - veio da assembleia. «Não estamos a pedir a independência, mas uma autonomia genuína, tal como prevê a constituição da China», esclareceu, apontando que a sua terra natal vive uma situação única sob o regime de Pequim pois este, referiu, não «contempla os direitos de 6 milhões de tibetanos».
Tenzin Gyatso disse que o move a missão de inverter a ameaça à cultura milenar do território, à sua língua, à sua espiritualidade e até ao seu meio ambiente. Realçou que os tibetanos se tornaram uma «minoria» na sua terra, devido a uma política de colonização chinesa. «A minoria tibetana no seu dia-a-dia tem que falar chinês, porque a língua oficial é chinesa», frisou, apontando que o budismo é encarado como uma «ameaça separatista».
O crescimento económico chinês, reconhece, fez desaparecer a «fome». Mas a pressão economicista está também na origem da «desflorestação» do território e a afectar os seus ecossistemas.

Diálogo com Bin Laden
Num apelo pouco vulgar, Dalai Lama pediu que o diálogo relativamente à paz mundial seja levado às últimas consequências, inclusivamente com grupos terroristas. O líder espiritual chegou mesmo a nomear um nome «proibido» na diplomacia: «Bin Laden». «Encontrem-se com ele, ouçam as suas queixas, as suas razões. Se houver de alguma forma um compromisso, muito bem. Se não, pelo menos é melhor entender qual o seu ponto de vista». Para o Prémio Nobel da Paz de 1989, a «não-violência não significa descompromisso, mas compromisso total».
O tema do Darfur - introduzido por um jornalista - deu o mote para uma denúncia: «É uma grande tragédia a que estamos a assistir», disse o Dalai Lama, apontando o dedo à falta de empenho dos governos mundiais para a resolver. «Penso que as ONG podem fazer mais do que os governantes», defendeu, recordando a mobilização internacional para assistir as vítimas do tsunami do Índico, em 2004. Tenzin Gyatso quis ainda deixar uma mensagem em defesa da «desmilitarização» como a única forma de garantir a paz de forma sustentada a nível mundial. «Uma bala não serve para comer, mas para matar».

Hugo Beleza, Portugal Diário, 13 de Setembro de 2007


Livro de Sua Santidade, o Dalai Lama, publicado este mês:


O Sentido da Vida

Dalai Lama

Org. de Jeffrey Hopkins

As palavras de sabedoria de Sua Santidade, o Dalai Lama, reunidas em mais um livro para ler da primeira à última página!


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